Atualmente no Brasil, está aberta a discussão sobre a Educação domiciliar, ou homeschooling, e é importante entendermos o contexto de tal prática e as suas consequências.
Em defesa da escola, comecemos nossa reflexão a partir do conceito aristotélico “O homem é um ser social e gregário”, que necessita estar no convívio com os demais para se sentir pertencente ao mundo e se responsabilizar por tais relações. Esse, com certeza, é um bom argumento para fortalecermos a importância da escola, instituição que tem como finalidade a formação integral dos estudantes.
Muitos teóricos e estudiosos dizem que a interação entre os estudantes e a escola propicia intercâmbios importantes para o seu desenvolvimento intelectual e pessoal. Segundo Vygotsky, o desenvolvimento cognitivo do aluno acontece por meio de suas relações sociais e o professor é figura essencial para mediar a aquisição do conhecimento, num processo que ocorre de fora para dentro. E é a escola o espaço onde tais relações podem acontecer, com segurança e respeito.
Por exemplo, o processo de alfabetização não é algo espontâneo e natural, é um processo, que utiliza métodos e tem o professor como o mediador, aquele que faz intervenções significativas para a aprendizagem do ler e escrever.
Fortalecer as instituições públicas de ensino significa pensar e assegurar o futuro das crianças e jovens do nosso país, valorizar os professores e sua formação docente, bem como, respeitar o conhecimento construído e transmitido sócio-historicamente.
Então, como pensar em alfabetização sem escola e sem professor?
O desenvolvimento durante a construção do ler e escrever acontece nas relações que são estabelecidas entre os estudantes e os outros, na sua leitura de mundo, nos seus conhecimentos que serão também compartilhados, relatados, registrados, através de ações que foram planejadas por um profissional da educação que tem como foco a alfabetização e o letramento.
Dessa maneira, é importante pensarmos que a Educação formal traz em si a nobre tarefa de educar as futuras gerações para o pleno desenvolvimento, exercício da cidadania e mundo do trabalho. Como direito constitucional assegurado no art. 205 da Constituição Federal, a escola é dever da família e do Estado.
Pensemos a Educação domiciliar também pelo viés da inclusão.
A escola pública como espaço do diverso, do contraditório representa riqueza de saberes construídos, troca de aprendizagens e partilhas a partir das diferenças. Sendo assim, a pessoa/criança com deficiência, por exemplo, tem o direito de aprender, conviver em sociedade, preferencialmente na rede regular de ensino. Tendo assim a possibilidade de desenvolver plenamente suas competências e habilidades cognitivas e socioemocionais, como prevê a Base Nacional Comum Curricular.
Portanto, a Educação domiciliar representa o interesse da minoria e não traz em si condições de viabilidade desse modelo educacional, uma vez que o Brasil é um país em desenvolvimento e isso pode ser um retrocesso para a maioria das crianças brasileiras.
Precisamos ter clareza: que futuro queremos para as nossas crianças? Quais são as habilidades que queremos ensiná-las para que sejam capazes de solucionar os desafios da sua geração quando não mais estivermos aqui?
Por Professoras Ma. Juliana Reis, de Uberaba (MG) e Marta Bello, São Luís (MA)