Se estar em isolamento social foi difícil para os adultos, imagine para jovens e crianças que tiveram que ficar assim por dois anos. E ainda terem aulas por meio da internet, sem contato presencial com os colegas e professores. No mês de abril, a Secretária Estadual do Estado de São Paulo divulgou um dado alarmante: 69% dos alunos do ensino fundamental e médio relatam sintomas de depressão e ansiedade em SP. E é claro, que esses dados também se repetem em outras partes do Brasil e também junto a eles vem a desmotivação dos alunos para continuar estudando.
Agora no retorno presencial, é preciso enfrentar dois grandes desafios: tentar manter alunos engajados e motivados, depois de tanto longe fisicamente da sala de aula e retomar a aprendizagem. Em estudo realizado pelo Instituto Península e publicado em setembro de 2021, 57% dos professores dizem que o grande desafio está em recuperar a aprendizagem dos alunos, impactada com o fechamento das escolas e com os obstáculos do ensino a distância.
No entanto, não foram somente os estudantes que foram afetados, o mesmo estudo fala que 57% dos professores participantes da pesquisa responderam que gostariam de receber apoio psicológico e emocional, principalmente para lidar com as questões impostas pela pandemia. E então surge o questionamento: qual a importância de falar em saúde mental em sala de aula?
Foi pensando nesse assunto e no contexto de adoecimento mental de muitas pessoas da cidade de Tapejara (RS) que o professor Alexandre Lunardi Testa desenvolveu o “Chatbot socioemocional”. Realizado junto com os alunos, a equipe criou um chatbot para explicar um pouco mais sobre transtornos e doenças mentais, como também indicar a busca por ajuda. Foi um trabalho coletivo e com a ajuda de profissionais do setor de psicologia da escola, tudo para montar as respostas do robô. O principal interesse do robô é trazer à fonte a discussão sobre saúde mental e ajudar a comunidade municipal a desmistificar sobre o assunto.
Com a sua iniciativa o professor ganhou o Conectando Boas Práticas, premiação da Conectando Saberes para projetos inovadores em sala de aula. “Em um primeiro momento eu entrei em choque, porque, enquanto professor, eu não esperava que a prática fosse reconhecida, a gente se acostuma a trabalhar por trás dos panos. É bem difícil ver uma prática pedagógica ser reconhecida, especialmente entre tantas ideias maravilhosas. Isso fez com que eu ficasse muito feliz, porque tive certeza que o projeto poderia ter sequência, já que ganharia visibilidade e a construção poderia ser tratada com um cuidado maior”, conta ele.
Por meio do projeto ele percebeu a importância de tratar de assuntos tão sérios e afetam diferentes gerações, dentro de sala de aula. “Eu me senti estimulado a produzir mais, de que eu não era invisível, já que a prática poderia fazer diferença mesmo. Eu não estava maluco quando pensei que poderia, através da educação, tocar em um tema bastante sensível para comunidade local para tentar mudar isso”.