A Instabilidade emocional no Pós-Pandemia

A INSTABILIDADE EMOCIONAL NO PÓS-PANDEMIA

Nos últimos meses, inúmeras matérias trouxeram à tona uma realidade que tem sido vivenciada pelos professores nesse período pós-pandemia: a instabilidade emocional dos alunos.

Segundo pesquisa realizada pela Nova Escola, seis em cada dez professores do país avaliam que os alunos estão mais violentos após o retorno presencial. Para 97,9% deles, o aumento da agressividade atrapalha o aprendizado.

As principais razões para essa mudança de comportamento em sala de aula é o isolamento social, que manteve os estudantes em ensino remoto sem contato presencial com a escola e os colegas. Consequentemente, houve o aumento de doenças psicológicas (50,6%). Um estudo feito pelo Instituto Ayrton Senna aponta que 70% dos estudantes do estado de São Paulo relataram sintomas de depressão e ansiedade

A psicóloga e pedagoga Ana D’Agostini diz que em casos de violência ou desenvolvimento de transtornos como esses, trata-se de uma forma encontrada pelo indivíduo de expressar um sofrimento, que pode ser manifestado de diferentes formas em cada um, podendo ser mais leve, moderado ou intenso.

“A gente tem que olhar especialmente para os impactos nas crianças e adolescentes porque eles estão num período chave de desenvolvimento. As consequências de ficar afastado todo esse tempo da escola, de lidar com a falta de socialização, com o medo, com essa desconexão com a escola eles, são consequências desse período”, comenta Ana Carolina D’Agostini, psicóloga e pedagoga.

A classe dos professores também é afetada por esse contexto. Infelizmente, mesmo antes da pandemia, docentes já sofriam com o adoecimento mental, como esgotamento, depressão, entre outros transtornos. No entanto, foi na pandemia que vimos ainda mais a importância de falar sobre saúde mental e compreender como as dinâmicas na escola podem favorecer ou prejudicar questões dessa natureza.

“A saúde mental é uma negociação constante que todos nós fazemos a todo tempo com as nossas emoções. Por exemplo, se eu estiver em um evento que desencadeia ansiedade como: uma prova, falar em público, eu posso sentir muito medo, muita insegurança e não conseguir fazer minhas coisas, não conseguir pensar direito. E a função da nossa saúde mental é justamente segurar, metabolizar esse medo, essa insegurança, essas emoções para que eu consiga dar conta das minhas tarefas do dia a dia”, explica a psicóloga.

Em meio a toda essa situação, o professor acaba sendo a figura, que muitas vezes, passa mais tempo com os estudantes do que a própria família. Em detrimento disso, ele pode ser a pessoa que acabará percebendo mudanças significativas de comportamento e que podem ser alertas para problemas maiores. Os indícios se tornam bastante visíveis, por exemplo, no desempenho escolar, na socialização com os colegas, em conteúdos que podem aparecer nas produções da escola e nas tarefas.

Então, diante dessa situação vem o questionamento: como ajudar o aluno nessa situação?

“O professor pode fazer encaminhamentos para profissionais especializados da área da saúde, como psicólogos, psiquiatras (este, o profissional que realiza os diagnósticos) e quando for o caso fazer essa ponte e comunicar à família os sinais que tem percebido e trocar se tem acontecido a mesma em casa”, pontua a psicóloga. Ela cita também outras alternativas como o desenvolvimento de projetos interdisciplinares ou com o apoio da coordenação ou de profissionais de saúde, além de espaços para que os alunos se sintam seguros e ouvidos.

Ana ainda pontua que é importante que o professor entenda que não precisa lidar com essa situação sozinho, pois ele também precisa cuidar da sua saúde mental e por isso, ele precisa se alfabetizar emocionalmente. “É importante que os docentes se tornem conscientes também das próprias emoções, que as conheçam, saibam nomeá-las e desenvolvam estratégias para lidar, por exemplo, com a ansiedade, raiva ou estresse”.

Assim como para os alunos, é necessária a criação de um espaço de escuta também para os próprios professores, onde eles se sintam seguros para comunicarem também seu sofrimento, seus anseios, suas dificuldades e receberem apoio.

“A escola é um ecossistema, um lugar de relação, de afeto, de troca. E quando a gente fala de relação, a gente fala de afeto, a gente fala de trocas humanas, de dinâmicas que moldam quem a gente é e que vão nos ajudar a crescer, a transpor desafios e outras questões que surjam”, finaliza a psicóloga.

Separamos abaixo alguns links que podem servir na busca por ajuda:

Ana Carolina D’Agostini é psicóloga e pedagoga formada pela PUC-SP, especialista em Psicologia nos Cuidados da Saúde da Mulher pela UNIFESP e mestre em Psicologia da Educação pela Columbia University.

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